Pra os novatos no assunto, a palavra otaku denomina uma tribo dos que curtem mangás, animes e cultura japonesa em geral. Já para os que tem certo aprofundamento no assunto, sabe que o termo otaku, no Japão, surgiu como um termo para tornar pior o "nome" de nerds e, sabe também, que aqui no Ocidente a interpretação japonesa foi ignorada. Brasileiros, americanos e europeus usam o termo “otaku” somente para se diferenciar, se dividir em grupos tão peculiar quanto os de trekkers, cinéfilos ou metaleiros.
Entre os fãs, existe uma grande polêmica para se denominar quem é otaku ou não. Grupos de discussão e fóruns já foram bombardeados por quilométricas discussões sobre o tema, então acho é perca de tempo falar da validade ou não do uso de “otaku”. Decidi falar um pouco sobre como a palavra e as pessoas a quem ela é atribuída vivem e vêem isso no Japão.
O Japão é um país muito conhecido por sua cultura rígida e cheia de padrões. Quem foge dos padrões é considerado um estranho. Nas escolas primárias, por exemplo, uma mochila de cor diferente já pode ser causa de um certo preconceito. O “ijime”, a judiação, tão comum em qualquer lugar do mundo, no Japão chega a níveis alarmantes, com freqüentes casos de acidentes graves e até assassinatos entre crianças. A linha que separa uma pessoa comum de uma aberração , aos olhos de uma criança é muito próxima e isso é uma das principais causas de estresse em uma idade onde não deveria haver isso. Não bastasse a aceitação social, os japoneses ainda têm de lidar com um rigoroso sistema escolar, outro tema muito debatido. A cobrança dos pais também é muito grande e ao se tornarem adultos, as cobranças só pioram.
Talvez não apenas no Japão, mas a cultura japonesa valoriza muito o comum. As pessoas devem ser comuns, viver vidas simples, entrar em um bom colégio, numa boa faculdade, para então garantir sua vaga numa boa empresa, para poder se casar com uma boa esposa, ter bons filhos, comprar uma casa em prestações a perder de vista para então, envelhecer e passar os últimos dias sem saber direito o que fazer.
-A palavra otaku
Dessa supervalorização do comum vêm os problemas do preconceito com o diferente. O termo otaku surgiu como qualquer outra palavra pejorativa: para segregar alguma pessoa que goste muito de alguma coisa. Foi o colunista Akio Nakamori, na revista Mangá Burikko, quem oficializou o termo. A revista, uma antologia especializada em Lolicon e Bishojo mangá, publicou em julho de 1983 o texto de Nakamori intitulado “Otaku no kenkyu” ( Estudos sobre o Otakus ), encarte especial do mangá “Tokyo Otona Club” ( Clube Adulto do Tokyo ), da citada Burikko. No textom Nakamori cita os otakus como “aqueles garotos UjaUja Nekura (algo como pegajosos, bizarros, sombrios) que tanto aparecem ás vistas nesse fim de século” se referindo aos fãs de Gundam, Patrulha Estelar e Cagilostro no Shiro, os animes em alta, na época.
Porém, popularmente, diz-se que o termo surgiu da forma como os fãs de mangá e anime se tratavam na época. Conhecidos no Japão por usar uma polidez desnecessária, mesmo entre seus iguais, os otakus, em conversas casuais, como quando pedem uma opinião sobre um certo anime, falariam “otaku wa doo omoimasuka?” ( Qual a opinião do senhor? ). O termo otaku é mais uma das várias formas de se tratar a segunda pessoa de forma mais polida, mas que, em geral, não se usa em conversas casuais.
No Japão, até hoje, os otakus usam termos mais formais como uma espécie de brincadeira entre seus iguais, sendo que o atual é o termo –shi, usado após o sobrenome de uma pessoa. Esse termo é usado mais em documentos para tratar de qualquer pessoa do sexo masculino. Das chacotas com o estranho modo de se tratarem, teria vindo o uso de “otaku” para denominar os estranhos adoradores de animes.
Porém, antes da década de 80, os otakus tinham um outro nome. Eram chamados de “Byoki”, literalmente, doença. Essa conotação negativa vinha do fato de muitos dos fãs de animes também serem adeptos a Lolicon ( feitiche a garotas menores de idade ) e outras perversões malvistas. Portanto, os otakus descendem de um termo ainda pior.
-A generalização
Conhecendo a história dos mangás e animes no Japão, sabemos que isso foi, por muito tempo, uma das poucas diversões das crianças japonesas. Para as solitárias, então, talvez tenha sido a única opção de diversão, de escape do mundo que não as chamava para jogar bola e nem brincar na rua.
O otaku era a criança que só lia mangá, agia de maneira estranha e falava sozinha com suas fantasias. Ao contrário dos nerds, que usamos aqui para falar também dos inteligentes, otaku era sinônimo de pária. Negação nos esportes, zero a esquerda na escola e sem nenhum amigo, otaku era literalmente ser o fundo do poço da sociedade.

No Japão de hoje, podemos ver homens musculosos, garotas ou velhos sendo chamados de otaku, talvez porque a cada dia, nós passamos mais e mais horas sozinhos. Qualquer pessoa que fique muito sozinha, acaba arranjando um hobby, e se ficar muito tempo sozinha, esse hobby passa a se tornar cada vez mais importante, por ser um dos únicos meios pra se alcançar prazer num mundo tão estressante.
Existem aqueles que assistem á Copa do Mundo sozinhos, garotas que fazem compras, se enchendo de caríssimas , sozinhas ; bombados que passam a noite fazendo exercícios sozinhos. Mas essa solidão não é vista como negativa, é um retrato da sociedade, dos horários apertados, das agendas lotadas, da falta de tempo para conhecer pessoas novas,pra rever amigos antigos.
Por isso,ser otaku, hoje em dia,é visto como parte da vida de uma pessoa comum, que como qualquer outra pessoa é ocupado demais para fazer aquela coisa simples que é passar o tempo acompanhado.
-O Wotaru

-Sociedade Otaku
Hoje, os otakus, excluídos da sociedade comum, criaram sua própria comunidade. O otaku expulso da sociedade aprendeu a se virar a ponto de não precisar se importar mais com o mundo “comum”.
À medida que os otakus se juntavam, passou a surgir um sentimento de orgulho entre eles, como surge em qualquer tribo ou em qualquer minoria.O orgulho otaku é, basicamente, não ter vergonha de se vestir mal, de torrar seu dinheiro todo em brinquedos e de não precisar, necessariamente, de namorada. Álias, existem otakus de filmes pornô e até de profissionais de sexo.
Até mesmo a moda otaku ganhou certo destaque. Em referência aos B-Boys, o pessoal que curte hip-hop e cultura Black em geral, surgiu o A-Boys, referindo-se a Akihabara. Bandanas, camisas xadrez, luvas com dedos cortados, estilo militar, calças altas e finas; são roupas que o pessoal de Akiba costuma vestir, quase como um uniforme.
Dentre os otakus, existe o termo “Moe”, do kanji “Moe”, que significa “mostrar sintomas”. Mas sua origem veio de brincadeiras na internet. O termo original “Moe Moe”, vem do kanji “Moeru”, que significa “queimar”. Só que no computador, ao digitar “moe”, o primeiro kanji que aparece na listagem é o original. Esse sentido errado tornou uma espécie de charme, um código só dos otakus e logo sua nova grafia seria difundida. “Moe” é usado para expressar um sentimento de prazer, ou como adjetivo, para denominar a coisas que os otakus gostam.
-Na mídia
Existem vários filmes, animes e mangás que mostram o mundo otaku japonês, Densha Otoko, um livro baseado num fato real que foi documentado por um otaku em um fórum de internet, virou mania no Japão. Foram realizadas duas adaptações, uma para cinema e outra para TV. No cinema, o protagonista é um wotaku, sem o menor sinal de ter vida social, se esquivando até dos outros otakus de Akihabara. Na TV, ele já é otaku, acompanhado de dois amigos, tão hardcore quanto ele. A série de TV ainda é interessante por mostrar várias pessoas solitárias a sua forma, otakus de seus jeitos particulares, escondidos sem tentar sair dessa situação.
Nos mangás, existe Genshiken, publicado na Afternoon. O mangá trata de um círculo universitário chamado Genshiken, uma abreviação para Clube dos Amantes da Cultura Atual. Na verdade, o clube é só ponto de encontro de alguns otakus que não que não querem fazer nada, apenas querem assistir a animes e ler mangás. Existe o clube do mangá, do anime, dos games, mas ao mesmo tempo em que o Genshiken junta tudo isso, ele não faz nada do que se faz nos outros.
O mangá mostra inclusive uma garota comum, em termos japoneses, Shibuya kei, em referência ao bairro descolado de Tóquio, antítese de Akihabara. Essa garota se apaixona por um otaku que, apesar da cara de bonitinho, é o mais hardcore de todos os outros de Genshiken e não demonstra nenhuma vergonha de ser assim. Tem também uma cosplayer, uma garota tímida que viveu por um tempo nos EUA e, por isso, tem uma idéia diferente dos otakus. Tem o otaku militar que adora Gundam, ficção científica, etc. O desenhista. Que gosta de desenhar mas não quer realmente ser um mangaká. Aquele cara que curte cosplay e, apesar de não de vestir de acordo, adora fazer roupas para os outros e tirar fotos. E o otaku descolado, mistura de Shibuya com Akihabara.
Enfim, é um desfile de típicos otakus, numa história de comédia de situações. Sem as histórias clichês dos mangás, como SD, piadas sexuais, etc. É mais próximo de uma sitcom americana, como se fosse um Friends otaku.Os políticos japoneses também têm colocado os olhos nos otakus .Os animes e mangás foram oficialmente admitidos como cultura de mídia, e assim, universidades e escolas técnicas passaram a dar cursos sobre o assunto, aumentando anda mais a seriedade do mercado.
-Finalizando
Assim, o otaku acabou se tornando parte da sociedade, não se adaptando ao comum, mas fazendo a sociedade comum, aceitá-los como uma parte necessária.Mas ainda assim sobrou o wotaru. A diferença entre o wota e os otakus comuns é que o wota extrapola os limites.Eu diria que o otaku está nos limites do hobbie, é aquele que ainda leva sua vida, tem alguns amigos e no fim de semana vai a Akihabara. Entre os wotakus existem muitas mulheres, talvez tanto quanto homens, completamente solitárias, anti-sociais e que não se misturam nem com os otakus. Os wotakus são adultos, alguns já com mais de trinta anos, tipos que realmente são diferentes demais para não se notar.Por isso, acho que os brasileiros não têm motivo pra negar o otaku, Assim como no Japão, o termo ganhou uma compreensão diferente à medida que as pessoas as quais ele se referia mudaram.
Antigamente, no Japão, o termo se referia às pessoas de comportamento estranho e, no Brasil, se referia àquela pequena parcela que comprava fitas de fansubber e vivia na Liberdade. Com a popularização, muitas pessoas, de diferentes personalidades, passaram a freqüentar os points otakus, assistir a animes e se denominar otakus. Portanto, assim como no Japão, acho que devemos suavizar seu sentido, usando-o para separar os amantes de cultura japonesa, que não são exatamente fanáticos, sem vida pessoal, como se imaginava antes.
Fonte : Neo Tokyo- Número 10.
@KarolKawaiichan
Olha,coisas maravilhosas eu descobri sobre o nosso mundinho Otaku *-*
ResponderExcluirTiia Kawaii te amo menha Keijeira -v-